maio 20, 2021

Gritando pela mãe

Por volta das 20h, sendo já noite cerrada, um pequeno carro saía vagaroso, com duas pessoas, do estacionamento frente a um prédio. Não lhes percebi os rostos, porque estava escuro e porque não os procurei ver. Entretanto, do prédio saiu um rapaz duns treze anos com um saco na mão, que ele abanava, saco pequeno mas com algo dentro que lhe dava volume. Vendo que o carro já se afastava gritou Mãe!!, alto e num tom agudo, fazendo prolongar a palavra. Eu, apercebendo-me de alguma urgência naquele chamamento, logo a seguir gritei mais alto Oi!! Mas quem seguia no carro não ouviu nenhum de nós. Vendo algum ar de desalento no rapaz, que baixou os braços e sossegou o saco, sugeri Liga-lhe para o telemóvel. Ele demorou alguns segundos a reagir. Disse, olhando para o sítio onde ia o carro, A minha mãe vai agora para o hospital… Logo me virou costas e se dirigiu a passos lentos para a porta do prédio, cabisbaixo e abanando ligeiramente o saco.

do projeto Anuário de banalidades