maio 11, 2024
Um pequeno fenómeno
maio 27, 2023
Sons de seda
Há compositores, instrumentistas ou cantores que se destacam por alguma particularidade, algo que confere um caráter muito peculiar à sua obra. Um deles é Chet Baker, que eu muito aprecio. Dentro do jazz, manteve sempre uma suavidade e uma delicadeza admiráveis, seja através da sua voz ou da sua trompete, instrumento habitualmente agressivo e dominador, mas que nos seus dedos e na sua boca se tornou suave como seda. A delicadeza da sua música está presente em toda a sua carreira, desde os tempos de juventude, em que passa por sex simbol, ao final da sua carreira e vida quando, com 50 e tal anos, aparenta ter 90. Muitos discos e imensas canções ele gravou, ao vivo e em estúdio. As suas versões de My funny valentine são as mais sentidas, belas e aveludadas que se podem encontram.
- do projeto Entre deuses e diabos -
abril 09, 2023
O negócio da guerra
A seguir ao negócio de Deus, historicamente o da guerra será o segundo maior negócio da humanidade. E quando se juntam os dois haverá quem lucre mesmo muito muito muito. À custa do sofrimento e da morte de tantos, obviamente, mas isso que importa aos senhores da guerra e a quem possui um deus por encomenda? A indústria da guerra é de tal modo lucrativa e poderosa, que facilmente põe muitas outras e gente de diversas áreas a trabalhar para si: da ciência em geral, da química, da mecânica, da construção, da navegação, da aeronáutica, dos transportes, das comunicações, da informação, da propaganda, etc., etc. Ora, quem investe em algo tão lucrativo não tem qualquer interesse em que o negócio pare, pelo contrário, tudo faz para que se desenvolva. Como se faz isso? Provocando guerras, inventando-as, criando ou alimentando rivalidades entre povos. Contra todos os princípios de ética e de humanismo.
- do projeto Entre deuses e diabos -
abril 04, 2023
O negócio de Deus
Deus é o maior negócio da humanidade. As grandes religiões monoteístas não se guerreiam pelo seu deus, mas pelo dinheiro e pelo poder que ele pode render. Ou melhor, as pessoas em geral pensam que se guerreiam pelo seu deus, mas o que interessa aos líderes é o poder e o dinheiro que podem lucrar. Quando se obrigava ou obriga as pessoas a seguir um deus, era ou é para manter e alimentar esse negócio, não para as salvar ou lhes mostrar a luz. Dentro de cada religião houve cisões que originaram divergências ou seitas. No cristianismo isso corresponde às diferentes Igrejas. Nalguns casos, quem as criou pode até ter tido a intenção de as libertar da corrente dominante para corrigir excessos, mas cedo elas se tornaram iguais à anterior, pelo menos em matéria de negócio. Na generalidade dos países, as religiões não pagam impostos ao estado, são as pessoas que pagam impostos às religiões, ainda que de livre vontade. Basta isso para que Deus se mantenha como o maior negócio da humanidade.
- do projeto Entre Deuses e diabos -
outubro 23, 2022
Nuvens bonitas
Sempre me encantou ver nuvens. Brancas, cinzentas, negras, alaranjadas; pequenas, grandes, plenas de tufos, de aparência plana, etc. Tão diferentes as podemos encontrar. Já escrevi acerca da diversidade e da beleza peculiar das nuvens da Península da Arrábida (sei que o nome oficial é Península de Setúbal, mas já muita gente prefere o outro, que acho que vai acabar por vingar). As largas embocaduras do Tejo e do Sado, a norte e a sul, o atlântico e a planície, a poente e a nascente, assim como a presença da Arrábida tão junto ao mar, conferem a esta região caraterísticas geográficas, climáticas e atmosféricas únicas. E isso faz-se sentir nas formas, densidades, dimensões e cores das nuvens dum modo peculiar (pelo menos assim me parece). Ora surgem pequenas e esfarrapadas, longas e suaves ou densas e tenebrosas. E, claro, as suas formas, aqui como em qualquer lugar, são também muito sugestivas. De tempos a tempos, não me apercebi em que circunstâncias específicas, forma-se uma nuvem única, gigantesca e densa, algo assustadora e de um cinzento acastanhado. É uma nuvem baixa, que avança lentamente do lado do oceano, apresentando uma frente retilínea, com orientação norte-sul, e que lembra um pano de muralha. Chega a estar metade do céu da península debaixo dessa nuvem e a outra metade limpa, ou quase. Ao avançar vai perdendo densidade e, por norma, pouco mais acontece do que uma chuva ligeira. Tem piada o contraste entre a aparência tenebrosa dessa nuvem e os seus efeitos pacíficos.
- Do projeto Entre deuses e diabos -
julho 28, 2022
Escravos do cigarro
- do projeto Entre deuses e diabos -
maio 11, 2022
De volta ao meu mundo
maio 01, 2022
Copos de pé alto
Detesto copos de pé-alto. Que coisa mais sem jeito! Para tombar e entornar o conteúdo é do melhor que há. O copo de pé-alto é uma provocação à força da gravidade. Sai o copo a perder, claro. Qualquer toque que se lhe dê... pimba!, cai. Para mim, copo é o de taberna, em forma de tronco de cone. Nele se bebe água, cerveja, vinho, sumo ou chá. Tudo o que se quiser. Copo de pé-alto é mariquice que dispenso. Eu, que não paro com as mãos quietas quando estou a comer, enervo-me com a presença de copos de pé-alto. Com receio de os fazer tombar, nem como descontraído.
novembro 14, 2021
Falta de tempo
julho 14, 2021
Mudar de ideias
junho 29, 2021
Uma conquista
junho 08, 2021
A beleza do vento
junho 04, 2021
A ânsia da notícia
Parece-me que a generalidade dos jornalistas de televisão tende a endoidecer. Não só esses, mas todos os que que fazem da ânsia de noticiar o foco do seu trabalho, quase um objetivo de vida. Como se os espetadores lhes tivessem pedido algo a que têm de corresponder. Querem noticiar primeiro e garantir grandes audiências. Preferem desgraças a coisas positivas, os dramas à felicidade. São uma espécie de mensageiros da tragédia, da tristeza e da inveja. Pessoas ansiosas. Fazem tudo rápido e dinâmico. Alguns dão as notícias de pé, ou estão sentados e depois levantam-se, e esbracejam a apontar para gráficos. Alguém lhes ensinou que isso prende os espetadores (mas há muita gente que não quer ficar presa). Mas depois engasgam-se e enganam-se, e dão notícias com falhas, e outras falsas. E constroem notícias que não o são. E chegam a fazer notícias do que está para acontecer. Presumindo. E depois há as notícias que passam em rodapé, que chegam a ser três, além da que está a ser falada. E nessas notícias de rodapé há frases estáticas e outras que se deslocam a diferentes velocidades. Chamam-lhes lagartixas. Tudo isto é doido e acontece ao ritmo com que o mundo se encaminha para o abismo. E por isso é tão bom não ver televisão. Ou não ver estas coisas.
do projeto Entre deuses e diabos
maio 07, 2021
Cansaços
Certas coisas dão-me tanto trabalho, provocam-me cansaços tão grandes... Mas ninguém se apercebe disso porque eu sorrio e comporto-me de um modo natural (não sei de outro) que camufla a realidade. O físico também se aguenta bem, é certo. Estou tão cansado de certos livros que estou a escrever, por envolverem pesquisas e serem extensos, que às vezes mais me apetece desistir deles do que continuá-los. Pintar cansa-me menos e o gosto da obra é mais imediato, mesmo quando ainda inacabada. Mas o gosto da obra escrita é muitas vezes tardio, surgindo só depois duma sucessão de muitos (ou imensos) cansaços. Se me lamento às vezes destes cansaços da escrita, por que continuo a escrever? Esta é uma das dúvidas que prefiro se mantenha um mistério.
do projeto Entre deuses e diabos
abril 24, 2021
A melhor vista para o crime
Há muito tempo que desejava ir a São Leonardo da Galafura, de onde se tem uma das vistas mais deslumbrantes para o vale do Douro. Fizemos a estreita e sinuosa estrada da barragem do Pinhão até lá, passando por Covelinhas. Tem troços muito estreitos, vertiginosos e com curvas muito apertadas, subidas e descidas muito íngremes. Foi arrepiante, sobretudo quando nos cruzávamos com algum carro estando nós do lado do precipício. Chiça! Lá em cima, junto da capela dedicada ao santo da aldeia da Galafura, está um miradouro natural muito alto, de onde se tem uma vista de 360º para vales e serras a perder de vista. Em dois painéis de azulejos estão um poema e um pequeno texto em prosa de Miguel Torga, alusivos ao local. Mas o que têm aquelas encostas que em tempos estavam cobertas de vegetação autóctone? Vinhas, vinhas e vinhas! Mais de 90% dos terrenos que a vista alcança por dezenas de quilómetros estão cobertos de vinhas, desde as margens do rio até ao topo das montanhas. Raras nesgas da vegetação original subsistem, e tudo leva a crer que será por pouco tempo. Devia ter-se estabelecido cotas para as vinhas, para que não se tivesse chegado onde se chegou. Uma tristeza! Não consegui gostar do que vi, pois o que dali se vê é a vista mais ampla para o enorme crime ambiental que são as vinhas do Alto Douro Vinhateiro. Um crime ambiental classificado como património da humanidade pela UNESCO. E milhões de pessoas bebem vinho dali, de videiras carregadinhas de herbicidas, pesticidas e adubos artificiais. Algumas placas na estrada, junto a áreas minúsculas de mato, indicam zona de caça. Ou seja, naquelas nesgas que são o pouquíssimo que sobra dos seus imensos territórios, alguns dos animais que ali se refugiam ainda são alvo de caça. Este é mais um capítulo do crime que são os desequilíbrios ambientais que por ali acontecem.
do projeto Entre deuses e diabos
abril 14, 2021
Medrosos ditadores
Os ditadores são as pessoas mais medrosas do mundo. Têm tanto medo que precisam ter o exército e a polícia do seu lado, a protegê-los. Nas aparições públicas estão rodeados de guarda-costas e polícias armados. E são tão fracos que precisam duma ideologia para os suportar. O seu medo e as suas fraquezas levam-nos a amedrontar os outros. São fracos e medrosos. Quem é forte não precisa disso.
do projeto Entre deuses e diabos
O sentido da vida
A vida não traz sentido com ela, por isso não se o procure. Sentido é coisa humana, não é coisa da natureza. Mas se alguém quiser, e puder, dê sentido à sua vida. E isso já será muito.
do projeto Entre deuses e diabos
abril 12, 2021
Subsiste a palavra
Impérios sucedem-se a outros impérios, países a países, culturas a culturas, religiões a religiões. Das ruínas de uns se erguem outros. A História segue entre ser lembrada, esquecida ou manipulada. Se a História não vingar, resta a lenda ou a memória. E quando já mais nada houver, subsiste a palavra. A palavra é a herança última da humanidade.
do projeto Entre deuses e diabos
abril 07, 2021
O contrário do óbvio
Às vezes ocorrem-me raciocínios muito simples de onde nascem conclusões que me parecem muito certeiras. Tão simples e elementares (descomplicadas, que é uma palavra que por aí muito se diz e com que simpatizo) que me surpreendem mais do que muitos raciocínios complexos dos quais pouco sumo pinga. Vejamos… Quem mais fala de liberdade e democracia não as pratica nem as deseja, e defende regimes onde elas não existem; quem muito fala de amor e paixão duvido que tenha as melhores intenções, e num momento de desequilíbrio logo chispará ódio; quem não se cala com a justiça é, no fundo, capaz das maiores injustiças; quem mais fala de combate à corrupção é quem mais contribui para a camuflar ou fazer proliferar; quem muito fala em trabalho está sempre à espreita duma oportunidade para não trabalhar, ou para que outros trabalhem por ele; quem muito fala de paz e de harmonia entre os povos fá-lo para desviar a atenção de guerras que, na realidade, defende e promove. A isso chamo o contrário do óbvio, por me ser tão óbvio que, por um qualquer mecanismo de compensação, se vozeie aos sete ventos precisamente o contrário daquilo que se defende. Quem a sério defende os bons valores tem isso como tão natural e enraizado que não precisa de os espalhar aos sete ventos. Porque os pratica, e pronto.
do projeto Entre deuses e diabos