Esta crónica era para se chamar Descascando favas, mas ficou com outro título, já se verá porquê. Hoje comemos favas com entrecosto. É muito bom comermos as coisas próprias da época, porque é quando sabem melhor. Abril é época de favas, e cá em casa todos gostamos. Eu e o João, o nosso filho, descascámos seis quilos de favas. Quem sabe destas coisas sabe que depois o que chega à panela é pouco mais de um terço desse peso. Mesmo assim é provável que a tachada dê para meia-dúzia de refeições (não somos propriamente uns brutamontes a comer). Voltando ao descasque… Para este ser mais eficaz, é preferível fazê-lo com o bico da vagem virado para cima, pois é também para aí que está virado o olho da fava. Assim, o mesmo gesto abre a vagem soltando uma fava e retira-lhe o olho. Mas qual não foi o meu espanto quando numa vagem as favas estavam ao contrário!, ou seja, com o olho virado para o pé. Tirei uma, duas e três favas, e todas estavam assim. Mostrei ao meu filho e à minha mulher. A meio da vagem parei e ia preparar-me para fotografar ou filmar o descasque da outra metade. Contudo, nessa metade houve nova surpresa: as favas estavam na posição certa. Parece mentira, mas não, isto foi verdade verdadinha.
- do projeto Entre deuses e diabos -