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janeiro 04, 2023

Lembro-me de ir à pesca

Lembro-me de ir à pesca com o meu avô e de ficar muito mais contente por apanhar dois ou três peixes do que ele que apanhava dez ou quinze. Enquanto eu me encantava com isso, ele não. Perdeu a capacidade de se encantar com a idade, pensava eu. Já viveu tantos anos que se fartou de se encantar. Descobri mais tarde que, afinal, ele aprendeu a encantar-se sem o mostrar. O encantamento dele era uma coisa só dele. Eu queria que o meu encantamento fosse partilhado por todos. Que mania parva! A água a jorrar das fontes e das nascentes, fazendo levantar os grãozinhos de areia, deixava-me os olhos a brilhar. Ao meu avô, não. Ele tinha sempre a fonte consigo.

- do projeto Três, dois, um -

agosto 22, 2022

Às vezes turva-se-me a vista

Às vezes turva-se-me a vista. Umas vezes por cansaço, outras por indecisão. Outras vezes por qualquer outra coisa que não sei o quê. Turva-se-me de modo que não consigo, mesmo que me esforce, ver as coisas em pormenor. Parece-me que é o cérebro que está turvo em vez dos olhos. Mas um turvo que me permite captar aquilo que vejo num todo. A vista deixa de fracionar e de selecionar as coisas. Vejo tudo num todo e sinto-me parte dele. A cabeça fica descansada e inativa (ou aparentemente inativa) como desejo tantas vezes. Raras vezes me acontece. Mas é nessas vezes que, estando de parte a minha vontade, fico mais próximo de mim.

- do projeto Três, dois, um -