Às vezes turva-se-me a vista. Umas vezes por cansaço, outras por indecisão. Outras vezes por qualquer outra coisa que não sei o quê. Turva-se-me de modo que não consigo, mesmo que me esforce, ver as coisas em pormenor. Parece-me que é o cérebro que está turvo em vez dos olhos. Mas um turvo que me permite captar aquilo que vejo num todo. A vista deixa de fracionar e de selecionar as coisas. Vejo tudo num todo e sinto-me parte dele. A cabeça fica descansada e inativa (ou aparentemente inativa) como desejo tantas vezes. Raras vezes me acontece. Mas é nessas vezes que, estando de parte a minha vontade, fico mais próximo de mim.
- do projeto Três, dois, um -