julho 31, 2023

A leitura e o silêncio

Só se sobe o nível intelectual e cultural de alguém ou dum povo se se promover o silêncio. Para ler há que serenar e silenciar o cérebro.  Para observar e questionar, o silêncio é fundamental, pois é nele que  tudo se constrói e reconstrói. Quem malevolamente governa cria ruídos com as palavras, com os atos e as ideologias que defende. É um ruído que empobrece o espírito e dificulta a vida. A leitura é, por excelência, um motor de cultura e um fertilizante do eu. E pode mudar tanta coisa. Um problema de tantos jovens de hoje, em quase todo o mundo, é viverem em sociedades e culturas inimigas do silêncio. Quem não conhece o silêncio não consegue ler, nem o que dizem os livros, nem o que dizem os sinais do mundo.


- Do projeto Sincrónicas e anacrónicas -

julho 26, 2023

Corpo com tinta

 

Fotografia tirada no decorrer duma sessão de carimbos corporais sobre tecido. As pinceladas e as cores algo aleatórias proporcionam surpresas, quer nos tecidos, quer no corpo. No tecido fica, no corpo saí com lavagem. Mas na fotografia fica o registo.

- Tinta no corpo -

julho 22, 2023

Fim de viagem



Fotografia tirada num cais do Montijo. Há muito que estes barcos chegaram ao fim da sua viagem. Restam as carcaças daquilo que eles foram, as imagens que nos proporcionam e as memórias de quem os terá utilizado ou visto a navegar. 

- Coisas por aí... - 

julho 16, 2023

Sem-abrigo

Na sala de espetáculos, um espetáculo. Ouvia-se cá fora, perto das paredes mais próximas do palco. Sala cheia, talvez. Na parede lateral, do lado sul, uma saída de emergência num espaço ligeiramente recuado. Nesse espaço, cobertores e tralhas de alguém que ali faria intenção de pernoitar. Passei e olhei. Duas horas depois passei novamente, desta vez em sentido contrário. Lá estava agora o sem-abrigo, dando voltas entre cobertores e tralhas. Tentava abrigar-se na noite demasiado fria para um final de primavera. A reentrância daquela porta protegia-o do vento. Homem de meia-idade, alto, com cabelo comprido e loiro. Pareceu-me estrangeiro, talvez germânico ou nórdico. Reparei que entre aquilo com que se cobria havia uma bandeira nacional, muito suja. Sebenta de tantas nódoas.

- do projeto Anuário de banalidades -

julho 11, 2023

Galandum Galundaina

 

Tenho um particular apreço pela cultura mirandesa, e há anos que desejava assistir a um concerto ao vivo dos Galandum Galundaina. Tal aconteceu, finalmente, anteontem no Pinhal Novo. Aqui estão eles em ação. Multiinstrumentistas, contagiantes, alegres, muito bons, seguros. Um trabalho muito sério e de alto nível! Surpreende a diversidade de instrumentos que foi surgindo como coelhos saindo de cartolas. Todos cantam, à vez ou em coro, e põem toda a gente a dançar (a beilar, como se diz em mirandês). Mesmo os que permanecem sentados, de certeza que dançam por dentro.

- Coisas por aí... -

julho 05, 2023

Inversões

ataca acata


alerta atrela


eleger regele


livres servil


- do projeto Mínimos e visuais -