dezembro 30, 2021

Descobertas, não!

Nem descobertas nem descobrimentos. Uma palavra mais adequada para designar a epopeia marítima, e consequentemente terrestre, de Portugal (e não só, claro) dos sécs. XV e XVI é conquistas. Mas a mais correta será invasões. Fala-se de invasões francesas e de descobrimentos portugueses. Como uma palavra pode ser rigorosa ou toldar a realidade dos acontecimentos! Vergonhosas invasões portuguesas deveria ser a expressão a adotar. Quem estava do lado de lá pouco ou nada negociou, e se o fez não foi de igual para igual; muito menos quis ou gostou daquilo que se passou. Houve façanhas gloriosas dum ponto de vista científico, sobretudo no que à navegação respeita, mas apenas essas. Tudo é resto é desrespeito pelas culturas e povos conquistados, subjugados, usurpados, mortos, violados, além do roubo de matérias primas e de objetos valiosos. Do lado de cá estava o poder de Deus, o verdadeiro, que os guiava; do lado de lá estavam uns deuszecos, pouco mais do que aprendizes de feiticeiro. Não!, do lado de cá estava o poder das armas e da tecnologia. E é quase sempre esse que, ao longo da história, tudo decide. Tivessem chegado portugueses, espanhóis, ingleses, holandeses, franceses ou italianos a paragens onde houvesse um poder bélico superior, esse Deus de nada lhes valeria. E outra história se havia escrito.

- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -

dezembro 27, 2021

Trocando letras e animais

O GADO dava-lhe muito trabalho. Trocou o D por um M e ficou só com um animal. O GAMO cresceu, trocou o M por um L e ficou com outro animal. O GALO acordava-o de manhã, trocou o L por um I e ficou com outro animal. O GAIO piava a toda a hora, trocou o I por um T e sentou-o no colo. O GATO adora que lhe façam festas. 

- do projeto Palavras prenhas -

dezembro 24, 2021

Tempos modernos


Tempos modernos - Acrílico sobre tela, 200x200

- da série Quadros quadrados e quadriculados

dezembro 21, 2021

Um pombo a duas dimensões

É frequente ver pombos esmagados nas ruas da cidade. Depenicando aqui, depenicando ali, lá vão também depenicar no alcatrão. E quando a atenção é maior naquilo que depenicam do que naquilo que está à volta, às vezes acontece serem esmagados por um carro que passa. De facto é comum ver os pombos assim, espalmadas, mas nunca tinha visto nenhum a ser apanhado no instante em que tal sucede. Mas hoje vi, ou melhor, quase vi. Um carro que seguia à frente do meu apanhou um pombo que estava no alcatrão de uma rua, a dois passos do passeio. Vi o pombo ainda vivo, com outro ao lado, no passeio, e logo ouvi um som seco, tipo blorf, mistura de ossos quebrados e carne esborrachada. Não vi o momento do esmagamento porque o carro o tapou, mas logo vi o pombo reduzido a duas dimensões, já que o carro continuou o seu caminho. Em coisa de meio segundo, um pombo vivo ficou transformado numa bolacha de penas com recheio a nhanha de vísceras e sangue. O outro continuou, aparentemente indiferente, a depenicar no passeio.

- do projeto Anuário de banalidades

dezembro 18, 2021

Hojoki - Kamo no Chomei


Este blogue existe há oito meses e meio, mas nele não havia ainda falado de livros. É certo que ando a ler pouco e que a vontade me puxa mais para livros pequenos do que grandes. É um misto de preguiça e de gestão do tempo, já que outras atividades me têm ocupado. Para inaugurar a temática dos livros escolhi aquele que acabei de ler: "Hojoki - reflexões da minha cabana", do japonês Kamo no Chomei (1155-1216), edição deste ano da Assírio & Alvim. Aí vai um dos seus textos:

Quanto aos pobres aldeãos e lenhadores, quando já não podiam cortar mais lenha, deitavam abaixo as próprias casas e levavam a madeira para vender no mercado. O que um homem podia carregar mal dava para comprar comida para um dia. Doía ver, entre cavacos, pedaços de madeira ainda cobertos de laca vermelha e folha de prata e ouro. Quem não tinha mais nada roubava as imagens dos templos da montanha, destruía os altares e transformava-os em lenha. Coisas assim acontecem em épocas miseráveis e corruptas.

- Livros -

dezembro 14, 2021

A lua

Bem vindos
Oh todos mortais 
Que me veem passar
Dum lado ao outro do horizonte
A abrir e a fechar a minha enorme boca
Uns dias mais
Outros dias menos
Sorridente
Como vós 

- do livro Escritos de juventude -

dezembro 11, 2021

Casario - Alenquer


Na parte antiga de Alenquer há casario que surpreende a cada esquina, recanto ou travessa. Esta fotografia mostra o Beco do Espírito Santo. Tem um portão à entrada, que o esconde quando está fechado, mas quando lá passei estava aberto. Vale a pena lá ir para se ser surpreendido por imagens como esta.

- coisas por aí... -

dezembro 08, 2021

As cores dos barcos

Já olhei muitas vezes para elas. Muitas, mesma. E hoje, ao passar junto da doca dos pescadores, mais uma vez olhei. São pequenas embarcações de pesca e botes de apoio, construídos em madeira, em moldes tradicionais. Não as contei, mas serão largas dezenas. Umas velhas e degradadas, outras novas ou bem cuidadas, outras assim-assim; umas em reparação, outras à beira da ruína; a maior parte dentro de água, algumas fora dela. O que mais me impressiona deste conjunto é ele aparentar uma obra de arte de dimensões enormes. As formas e as cores formam como que um quadro a três dimensões, à volta e dentro do qual se pode andar. As cores saturadas e contrastantes, são-no, mais ou menos, consoante a hora do dia e as condições atmosféricas. O conjunto é uma obra de arte, como uma instalação, que não foi pensada para o ser e que, por isso, é especialmente encantadora.

- do projeto Anuário de banalidades

dezembro 05, 2021

Agitação

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- do projeto Mínimos e visuais -

dezembro 01, 2021

Dentro de cada homem existem várias pessoas - III

 
Dentro de cada homem existem várias pessoas - III - Acrílico sobre tela, 140x140

- quadros quadrados e quadriculados -