julho 30, 2021

Frouxos espantos

Não sei se é sinal de ter amadurecido, se de ter ficado parvo, ou se uma coisa terá levado à outra. Com amadurecido quero eu dizer… ter acumulado experiência e conhecimentos, com a idade. As coisas dos homens espantam-me menos agora do que dantes. Algumas, que antes me apaixonavam, deixaram até de me espantar de todo. E estou a pensar apenas no mundo das artes, porque se levar a reflexão para outras áreas terei de usar adjetivos e verbos bem mais dececionantes. Por exemplo, aquilo que agora encontro em livros de grandes autores já não me arrepia nem faz bater o coração com mais intensidade. Não é aquela sensação de Isto até eu escrevia! ou Era capaz de fazer melhor., nada disso. Apenas vejo fragilidades onde antes via virtudes, e talvez seja por isso que agora leia pouco. Será que me tornei maduro e exigente, ou insensível e parvo? Não sei. A mesma coisa sucede quando vejo quadros de grandes pintores ou oiço música de grandes compositores. Obras que antes me deixavam perplexo de admiração, deixam-me agora quase indiferente, com a sensação de me saberem a pouco, ou a nada. Em compensação, ou não, a natureza espanta-me cada vez mais. 

do projeto Sincrónicas e anacrónicas

julho 27, 2021

Reboco rendilhado

De vez em quando sou surpreendido por curiosos e encantadores detalhes nas fachadas da nossa arquitetura tradicional, como sucedeu com este rendilhado de reboco duma casa de Santiago do Cacém


Certamente terá havido uma época em que era dada formação aos pedreiros para conseguirem executar e criar tais relevos e recortes. O requinte e o rigor dos padrões são obtidos através de desenhos e moldes assentes numa elaborada geometria.

coisas por aí...

julho 25, 2021

Por que ...?

Por que falam tanto as mulheres?
Por que choram tanto os bebés?
Por que ladram tanto os cães?

Quem quiser pode responder para o meu email

do projeto Monólogo das perguntas

julho 21, 2021

Uma sessão de pintura corporal

Quis experimentar com a Cloé um método que não havia ainda utilizado na pintura corporal. Com o tecido estendido e a modelo deitada, fui passando tinta no seu corpo e virando-o para provocar carimbos, resultando três de frente e dois de trás. Agradou-me a alternância de cores e o trabalho no seu todo, onde os carimbos com menor impacto visual deram mais força aos outros.  


A sessão foi fotografada pelo Simão, namorado da modelo, que a seguiu atento e soube escolher bons instantes. Depois do duche da Cloé e da lavagem dos pincéis, sentámo-nos os três a beber chá e a comer biscoitos. O Simão teve uma presença simpática e discreta e mostrou-se interessado em fazer de modelo.

adaptação duma crónica do projeto Queridas modelos

julho 20, 2021

Corrosão


 Corrosão - acrílico sobre tecido, medida menor: c.155cm

da série Silhuetas

julho 18, 2021

Concerto de cigarras

Por estas alturas, meados de julho e estando calor, é normal ouvir-se por aí a cantilena das cigarras. Uma aqui, outra acolá ou meia-dúzia nas proximidades, camufladas nos troncos e ramos de árvores de médio ou grande porte, produzem aquele incansável e incessante trrr trrr trrr... Mas assim que a temperatura refresca um pouco, calam-se. Ora, num percurso a pé de cerca de 4,5km pelas redondezas da minha casa, deparei com algo diferente do habitual, num terço do trajeto. Mal cheguei perto dum pequeno núcleo de sobreiros, apercebi-me de que pelo menos uma dezena cantava daquela forma intensa e aparentemente sofrível. Afastando-me desse núcleo, logo cheguei a outro com mais sobreiros e também pinheiros, onde bem mais cigarras pareciam cantar ao despique, ou comunicar, mais do que lamentar-se do calor, que já não existia, por ser já princípio de noite e o ar estar fresco. À medida que seguia o meu caminho, deixava de ouvir as anteriores e começava a ouvir outras, umas perto, outras distantes, espalhadas pelas árvores de quintas e dum pequeno bosque. Julgo que terão sido algumas centenas de cigarras num concerto gigantesco e estranho, já não estando calor. Talvez houvesse uma razão para isso. Seriam rituais de acasalamento? O muito pouco que sei de cigarras não me permite saber a resposta.

do projeto Sincrónicas e anacrónicas

julho 14, 2021

Mudar de ideias

Há quem ache muito estranho que se mude de ideias e de convicções, considerando ser isso um sinal de fragilidade de caráter. Entendem, pelo contrário, ser uma virtude uma pessoa manter-se fiel a uma linha de pensamento e de atuação. Pois eu acho normal e desejável as pessoas mudarem de ideias e de convicções, como tudo muda, aliás. O mundo muda, a sociedade, a natureza. Na natureza a vida adapta-se, estando aí o segredo do seu sucesso. Até as montanhas aparentemente imóveis e eternas, emergiram do fundo do mar ou se deslocaram de outros continentes. Portanto, não mudar é que é sinal de fraco caráter. É frequente ouvir-se da boca de alguns políticos extremistas coisas como Eu não sou como aqueles que hoje dizem uma coisa e amanhã dizem outra. E fazem-no com grande convicção e orgulho. Coitados. 

do projeto Entre deuses e diabos

julho 10, 2021

Cair e levantar


Cair e levantar - acrílico sobre tecido, lado menor: c.155cm

da série Carimbos

julho 07, 2021

O monstro da razão

A razão enleia o pensamento e desnorteia quem por ela se tenta guiar. Há muito se sabe que a razão produz monstros ou que o sonho da razão produz monstros (como aparece numa gravura de Goya), por esta conduzir sempre a conflitos com os outros e até consigo mesmo. Quem invoca a razão para sustentar uma opinião afunda-se sempre nela, porque é da sua natureza ser pantanosa. Quando argumentam comigo trazendo a razão à baila eu não a ponho em causa. Quem sou eu para tirar a razão a quem acha que a tem! Se cada um tem a sua e lhe quer muito como a um diamante, então que a guarde, mas ela não passa duma pedra sem brilho. 


Autores como Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, Franz Kafka ou Clarice Lispector desmontam isso muito bem. Lendo-os apercebemo-nos de outras maneiras de pensar, de olhar e de sentir o mundo, sem os embustes da razão, da lógica e até mesmo da coerência. Como diz José Cid, coerente era a minha tia, porque as pessoas coerentes são limitadas e desinteressantes. O apenas sentir e ver é muito mais válido do que aparenta. É uma tontice uma pessoa dizer a outra que ela não tem razão. O que se passa é que cada uma terá a sua, já que a razão não representa um saber absoluto nem é propriedade de ninguém. Quando o diálogo se transforma em discussão e logo a seguir em violência verbal, pelo menos, surge o monstro. E chama-se-lhe assim porque nenhum dos dialogantes o consegue dominar. As pessoas gostam de esgrimir argumentos quando discutem, fazendo disso uma catarse de que certamente precisam. Quem tenta ganhar uma discussão comigo nunca consegue, porque eu não discuto. Apenas dou opiniões, entre tantas que existem, não esperando sequer que sejam mais válidas do que as dos outros. Por isso, longe de mim querer impingi-las a alguém. Assentes na razão ou no que quer que seja, opiniões todos as têm, porque é fácil tê-las, difícil mesmo é ter ideias.

do projeto Sincrónicas e anacrónicas

julho 05, 2021

Colónia de felinos


A colónia de felinos do meu bairro é um mimo, parece um hotel. A casa foi lá colocada pela câmara (de Palmela) há uns três ou quatro anos para albergar meia-dúzia de gatos vadios. A cobertura foi acrescentada pela vizinhança, que voluntariamente trata da colónia com muito zelo. Há dias também dei a minha ajuda, colocando a rede de fundo, porque daquele lado bate muito sol, e entra o vento de sudoeste, que muitas vezes traz chuva quando é tempo dela.

coisas por aí...

julho 02, 2021

Por que ...?

Por que são tão belos os troncos das mulheres jovens?
Por que são tão belos os troncos das árvores velhas?

Quem quiser pode enviar respostas para o meu email.

do projeto Monólogo das perguntas