julho 30, 2021

Frouxos espantos

Não sei se é sinal de ter amadurecido, se de ter ficado parvo, ou se uma coisa terá levado à outra. Com amadurecido quero eu dizer… ter acumulado experiência e conhecimentos, com a idade. As coisas dos homens espantam-me menos agora do que dantes. Algumas, que antes me apaixonavam, deixaram até de me espantar de todo. E estou a pensar apenas no mundo das artes, porque se levar a reflexão para outras áreas terei de usar adjetivos e verbos bem mais dececionantes. Por exemplo, aquilo que agora encontro em livros de grandes autores já não me arrepia nem faz bater o coração com mais intensidade. Não é aquela sensação de Isto até eu escrevia! ou Era capaz de fazer melhor., nada disso. Apenas vejo fragilidades onde antes via virtudes, e talvez seja por isso que agora leia pouco. Será que me tornei maduro e exigente, ou insensível e parvo? Não sei. A mesma coisa sucede quando vejo quadros de grandes pintores ou oiço música de grandes compositores. Obras que antes me deixavam perplexo de admiração, deixam-me agora quase indiferente, com a sensação de me saberem a pouco, ou a nada. Em compensação, ou não, a natureza espanta-me cada vez mais. 

do projeto Sincrónicas e anacrónicas