maio 31, 2021

Chuva de flores


Por estes dias, em Setúbal, onde há jacarandás chovem flores. Esta chuva foi registada na Praça de Bocage, ao final duma tarde algo nublada. 

coisas por aí...

maio 29, 2021

Perfume de mulher

Estando numa pastelaria a tomar o pequeno almoço com um amigo, passou ao meu lado e pelas minhas costas uma mulher de uns 40 anos, que se foi sentar junto de um homem, sensivelmente da mesma idade, que pouco antes se instalara numa mesa atrás de mim. Mal vi o rosto da mulher, e a situação não mereceria esta banalidade, por ser demasiado trivial, não fosse o caso de o seu perfume ter semiparalisado o diálogo que estava a ter com o meu amigo, assim como o pensamento que me guiava. Sou sensível a cheiros, sim, e perfumes é coisa que por norma não aprecio e que até me causa algum enjoo. Estranhamente, este foi envolvente pela sua suave doçura, mas sobretudo por um toque bastante feminino que me fez sentir que seria emanado do próprio corpo da mulher. De tal modo feminino e envolvente, que dei por mim a pensar Caramba! Se fosse este o odor natural do corpo das mulheres…


do projeto Anuário de banalidades

maio 27, 2021

Paz no orgulho

Gosto de olhar para trás, para os tempos em que vivíamos todos juntos: eu, o meu irmão, a minha irmã, a minha mãe e o meu pai, ele muito tempo fisicamente ausente (nos mais de vinte anos de emigração que cumpriu). E também gosto de olhar para o contacto que tive com os meus avós. Eram pessoas boas os ascendentes que conheci, e outros de quem ouvi falar, simples e humildes; analfabetos os avós e todos daí para trás, os meus pais vagamente letrados. Pessoas espertas, com o tino alerta para nunca se deixarem enganar e saberem os bons caminhos a indicar aos filhos. Pessoas inteligentes, que se tivessem tido a possibilidade de estudar…, onde teriam chegado! Pessoas que lutaram para dar, e conseguiram, essa oportunidade aos filhos, para que não passassem as dificuldades que eles passaram em crianças e até meio da vida. E os seus pais a vida inteira, e daí para trás vidas e vidas inteiras. Nunca pediram nem esperaram que lhes dessem nada. A motivação estava num forte crer e na garra para mudar as coisas. Por isso, olhando para trás, sinto-me honrado por ter a melhor memória que se pode ter dos pais: orgulho. E a melhor herança que vem com ele: paz de espírito.


do projeto Sincrónicas e anacrónicas

maio 23, 2021

Espelho partido


Num espelho partido junto dum ecoponto, lá estava eu.

Reflexos de mim

maio 20, 2021

Gritando pela mãe

Por volta das 20h, sendo já noite cerrada, um pequeno carro saía vagaroso, com duas pessoas, do estacionamento frente a um prédio. Não lhes percebi os rostos, porque estava escuro e porque não os procurei ver. Entretanto, do prédio saiu um rapaz duns treze anos com um saco na mão, que ele abanava, saco pequeno mas com algo dentro que lhe dava volume. Vendo que o carro já se afastava gritou Mãe!!, alto e num tom agudo, fazendo prolongar a palavra. Eu, apercebendo-me de alguma urgência naquele chamamento, logo a seguir gritei mais alto Oi!! Mas quem seguia no carro não ouviu nenhum de nós. Vendo algum ar de desalento no rapaz, que baixou os braços e sossegou o saco, sugeri Liga-lhe para o telemóvel. Ele demorou alguns segundos a reagir. Disse, olhando para o sítio onde ia o carro, A minha mãe vai agora para o hospital… Logo me virou costas e se dirigiu a passos lentos para a porta do prédio, cabisbaixo e abanando ligeiramente o saco.

do projeto Anuário de banalidades

maio 17, 2021

Trââââââânsito

Fui à capital e um pouco além dela. Para lá apanhei pouco trânsito. Quer dizer, deu para andar sem parar, apesar do trânsito. Mas mesmo assim deu-me que pensar, pois mais alguns carros e a coisa complicava-se. Isto foi à ida para lá, ao início da tarde, pois à vinda para cá, ao final da tarde, já a coisa estava feia. Filas e filas; ou melhor, fiiiiiilas e fiiiiiiiiilas. E contive-me para não desperdiçar muitas letras repetidas. À vinda para cá o carro esteve mais tempo parado do que em andamento. Carros e carros, muitos carrrrrrrrrrrrrrrros; entre eles o meu a contribuir para o número. Dei por mim a pensar, algumas vezes, que não poderão estar bem da cabeça as pessoas que se confrontam diariamente com filas e esperas e os nervos daí resultantes. Como poderão estar bem as pessoas que são violentadas todos os dias pelo trânsito automóvel durante anos ou décadas? O que me incomodou estar em filas malucas de trânsito só por cerca de uma hora! Caramba!, pensar que fui só comprar umas tintas a uma loja.

do projeto Anuário de banalidades

maio 15, 2021

Musa da Astronomia


Musa da Astronomia - acrílico sobre tela

- Nus e seminus -

maio 13, 2021

Massa média

Não leva açúcar nem sal

E por norma sabe mal

Não é pão e nem é bolo

Mas engana qualquer tolo


do projeto Poemas com e sem penas

maio 10, 2021

Ver o mar

Fui ver o mar. Apeteceu-me. Não gosto de fazer praia mas gosto de ver o mar. Passei perto de três praias e parei junto de uma delas, onde era suposto haver muita gente, mas onde ninguém estava. Era fim de tarde, mas não era isso o que justificava a ausência de pessoas. Havia nuvens e algum vento, e parece que havia também qualquer coisa nas televisões, daquelas que transformam as pessoas em massa. O mar varrido pelo vento, o céu tapado pelas nuvens, a serra afagada pela humidade que por ela subia; eu por ali. Os pássaros voavam e cantavam como se houvesse sol; ou voavam e cantavam por não haver pessoas que os importunassem ou inibissem de cantar e voar à vontade. Pareceu-me estar noutro sítio que não aquele que tão bem conheço. Senti-me gente e não massa.

do projeto Anuário de banalidades

maio 08, 2021

Sentir o ar


Sentir o ar - Acrílico sobre tecido, lado menor: c.155

da série Silhuetas

maio 07, 2021

Cansaços

Certas coisas dão-me tanto trabalho, provocam-me cansaços tão grandes... Mas ninguém se apercebe disso porque eu sorrio e comporto-me de um modo natural (não sei de outro) que camufla a realidade. O físico também se aguenta bem, é certo. Estou tão cansado de certos livros que estou a escrever, por envolverem pesquisas e serem extensos, que às vezes mais me apetece desistir deles do que continuá-los. Pintar cansa-me menos e o gosto da obra é mais imediato, mesmo quando ainda inacabada. Mas o gosto da obra escrita é muitas vezes tardio, surgindo só depois duma sucessão de muitos (ou imensos) cansaços. Se me lamento às vezes destes cansaços da escrita, por que continuo a escrever? Esta é uma das dúvidas que prefiro se mantenha um mistério.

do projeto Entre deuses e diabos

maio 03, 2021

Mirando o Douro



Por Terras de Miranda, em pleno Parque Natural do Douro Internacional, a paisagem nada tem a ver com a do Douro Vinhateiro. Aqui é a natureza quase intocada que marca presença.

coisas por aí...