maio 28, 2022

Oliveira com muletas


Muitas árvores são abatidas por aí, mesmo jovens, possantes e saudáveis, por qualquer motivo e até sem nenhum. Mas também há quem ajude as velhas a prolongar a sua vida e a reduzir o perigo a quem passe por perto. É o caso desta oliveira, ao lado da escadaria que conduz ao Castelo de Belver.

- coisas por aí... - 

maio 25, 2022

O monstro da razão

A razão enleia o pensamento e desnorteia quem por ela se tenta guiar. Há muito se sabe que a razão produz monstros ou que o sonho da razão produz monstros (como aparece numa gravura de Goya), por esta conduzir sempre a conflitos com os outros e até consigo mesmo. Quem invoca a razão para sustentar uma opinião afunda-se sempre nela, porque é da sua natureza ser pantanosa. Quando argumentam comigo trazendo a razão à baila eu não a ponho em causa. Quem sou eu para tirar a razão a quem acha que a tem! Se cada um tem a sua e lhe quer muito como a um diamante, então que a guarde, mas ela não passa duma pedra sem brilho. Autores como Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, Franz Kafka ou Clarice Lispector desmontam isso muito bem. Lendo-os apercebemo-nos de outras maneiras de pensar, de olhar e de sentir o mundo, sem os embustes da razão, da lógica e até mesmo da coerência. Como diz José Cid, coerente era a minha tia, porque as pessoas coerentes são limitadas e desinteressantes. O apenas sentir e ver é muito mais válido do que aparenta. É uma tontice uma pessoa dizer a outra que ela não tem razão. O que se passa é que cada uma terá a sua, já que a razão não representa um saber absoluto nem é propriedade de ninguém. Quando o diálogo se transforma em discussão e logo a seguir em violência verbal, pelo menos, surge o monstro. E chama-se-lhe assim porque nenhum dos dialogantes o consegue dominar. As pessoas gostam de esgrimir argumentos quando discutem, fazendo disso uma catarse de que certamente precisam. Quem tenta ganhar uma discussão comigo nunca consegue, porque eu não discuto. Apenas dou opiniões, entre tantas que existem, não esperando sequer que sejam mais válidas do que as dos outros. Por isso, longe de mim querer impingi-las a alguém. Assentes na razão ou no que quer que seja, opiniões todos as têm, porque é fácil tê-las, difícil mesmo é ter ideias.

- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -

maio 21, 2022

Partir ou ficar


Partir ou ficar - Acrílico sobre tecido, lado menor: c.155cm

 - Silhuetas -

maio 18, 2022

Lamentando o destino - Bocage

Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado
Em sanguíneo caráter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante

Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mãe, meu doce agrado
Segui Marte depois, enfim, meu Fado
Dos irmãos e do pai me pôs distante

Vagando a curva terra, o mar profundo
Longe da Pátria, longe da Ventura
Minhas faces com lágrimas inundo

E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo
Suspiro pela paz da sepultura

- textos outros autores - 

maio 14, 2022

Sombra na calçada


Há dias, em Setúbal, num final de manhã quente, despi o blusão de verão, olhei para a minha sombra na calçada e fotografei.

- sombras de mim - 

maio 11, 2022

De volta ao meu mundo

É sempre uma sensação muito boa entrar no ateliê depois de vários dias, sobretudo quando ausentado por outras paragens. É o regresso ao meu mundo, como lhe chamo. Quando lá volto sabe-me tão bem que nem faço nada. Fico apenas ali a olhar o espaço e os objetos por uma hora ou duas, sento-me e posso até deitar-me. E dormir. Apesar de estar sozinho sinto-me acompanhado. Por o quê? Pelo bem-estar de ali estar.

- do projeto Entre deuses e diabos -

maio 07, 2022

Reflexos infinitos


Espelhos por trás e ao lado uns dos outros provocam reflexos infinitos, em simetrias e contrassimentrias. Esta foto foi tirada no Museu da Fotografia, em Estocolmo.

- reflexos de mim - 

maio 01, 2022

Copos de pé alto

Detesto copos de pé-alto. Que coisa mais sem jeito! Para tombar e entornar o conteúdo é do melhor que há. O copo de pé-alto é uma provocação à força da gravidade. Sai o copo a perder, claro. Qualquer toque que se lhe dê... pimba!, cai. Para mim, copo é o de taberna, em forma de tronco de cone. Nele se bebe água, cerveja, vinho, sumo ou chá. Tudo o que se quiser. Copo de pé-alto é mariquice que dispenso. Eu, que não paro com as mãos quietas quando estou a comer, enervo-me com a presença de copos de pé-alto. Com receio de os fazer tombar, nem como descontraído.


- do projeto Entre deuses e diabos -