abril 27, 2022

Rapariga grávida com mão na mama


 Rapariga grávida com mão na mama - acrílico sobre cartão, 70x90

- Nus e seminus -

abril 24, 2022

Um carro dos Flintstones


Algumas vezes deparei com este carro estacionado na Praça de Bocage, num sítio onde não devia estar, e uma vez reparei na coincidência de as bolas de pedra estarem alinhadas com as rodas, parecendo, à primeira vista, serem elas as rodas do automóvel. Achei piada e fotografei este carro com algo de Flintstone.

- coisas por aí -

abril 21, 2022

As maiores tragédias da humanidade

As maiores tragédias da humanidade
Foram e são provocadas por ideologias

Por isso…
O meu interesse por uma ideologia
É inversamente proporcional
Ao número de mortes que causou

E… ou…
Presumo venha a causar

- excerto do poema A seriedade das ideologias -
- do livro A superfície das coisas -

abril 18, 2022

Anacíclico de orar

social somos laicos 
missa supus assim 
orava o avaro 
oras e saro 
orar e raro

se oro es

em ses me 
orem mero 
mes sem

mim

salta atlas 
sacram sas marcas

- do projeto Mínimos e visuais -

abril 15, 2022

Retrato duplo - Piero della Francesca


Este retrato duplo, da autoria de Piero della Francesca, mais concretamente Retrato de Federico de Montefeltro e de sua esposa Battista Sforza, é encantador pela simplicidade compositiva e pela complementaridade dos contrastes: as figuras estão de perfil e olham-se nos olhos; a cabeça dela aproxima-se dum círculo, a dele dum quadrado; ela tem pele clara, ele morena; a roupa e adornos dela têm cores suaves e neutras, a roupa e chapéu dele são dum vermelho intenso; a paisagem de fundo é a mesma, numa continuidade apenas interrompida pela moldura, também ela dupla, que envolve os dois retratados. 

- os meus quadros preferidos - 

abril 12, 2022

Às vezes qualquer coisinha me pode aborrecer

Às vezes qualquer coisinha me pode aborrecer, e a ela atribuo culpas por não dormir. Outras vezes nada me aborrece; nem o ladrar dos cães, nem o miar dos gatos, nem o barulho da vizinha histérica a ralhar com os filhos. O que me aborrece mesmo é esta coisa feita de substâncias duras, moles e viscosas a que se chama pessoa, coisa de que poderei dizer Isto sou eu. Mas ao mesmo tempo há algo que me agrada nessa amostra infiel de mim, ainda que sofrendo e sem que me agrade o sofrimento.

- do projeto Noitário de um insone -

abril 08, 2022

Figura grotesca II


Figura grotesca II - acrílico sobre tecido, medida maior c. 155cm

- da série Decalques - 

abril 03, 2022

Anta de Pavia / Capela de D. Dinis

 
Este monumento, situado no centro da vila de Pavia, é um encanto, por duas razões: como anta, está intacta; como capela, dá continuidade a uma função religiosa. A sua função primordial tinha a ver com o culto dos mortos, a atual tem a ver com as coisas do espírito. É o além, em ambos os casos, aquilo que inquieta e impulsiona. Há mais casos deste tipo de reapropriação religiosa, mas nenhum tão encantador, nem em espaço urbano, como este. A anta ali está há cerca de 4 mil anos, a capela há poucas centenas. Que outros cultos lhe estarão destinados nos próximos milénios?

- outras artes -

abril 01, 2022

Altos contrastes - V

Perto de Nápoles ficam Herculano e Pompeia, cidades que foram soterradas pela gigantesca erupção do Vesúvio no ano 79. São visitas incontornáveis, sobretudo para amantes de história e de arte. Herculano fica junto ao mar, e antes da erupção ficava mesmo colada à praia. Da cidade romana conhece-se apenas uma pequena parcela, já que o resto continua sob vários metros de cinzas do vulcão que, por sua vez, têm a cidade atual por cima. Templos, casas particulares, lojas, ruas e pequenas praças mostram aquilo que foi uma cidade viva há dois mil anos. Algumas paredes têm frescos em estado razoável, outras têm mosaicos em ótimo estado, no chão ou em paredes. Não custa adivinhar como as pessoas por ali se movimentariam. Pompeia é maior, mas também está longe de se conhecerem os seus reais limites. No casario comum há quase sempre um ou outro aspeto que se destaca: um pormenor decorativo, um recanto de lazer, um pátio particularmente sumptuoso, etc. Tem lojas e espaços de convívio, dois teatros e um anfiteatro, templos ou aquilo que resta deles, alguns bem grandes. E depois há as longas ruas e os grandes fóruns. Também algumas estátuas, pois a maioria, assim como diversos mosaicos e frescos, foi levada para museus. Percebe-se bem os materiais e as técnicas utilizadas na construção, que impressionam pela criatividade e rigor. Mas algo haveria de me surpreender mais ainda nesta viagem a Nápoles e arredores. Os gregos expandiram o seu domínio para lá do seu território original em torno do mar Egeu. O terço sul da atual Itália, assim como a Sicília, fizeram parte da Magna Grécia, onde foram fundadas diversas cidades, entre elas Neapolis e Paestum. Os três templos gregos de Paestum estão melhor conservados do que qualquer outro templo similar na Grécia, apresentando o peristilo completo, várias das colunas interiores e alguns frontões. E dois deles são grandes, bem grandes, apresentando ainda uma geometria rigorosíssima, nas formas e nas proporções. Emocionaram-me estes templos feitos há 26 séculos, assim como o espaço envolvente, pois o que ali está tem a ver com uma parte significativa das minhas raízes culturais. O museu de Paestum mostra várias peças encontradas na cidade e arredores: vasos, esculturas, objetos diversos e várias túmulos. Os túmulos eram como pequenas casas, formados por lajes de pedra rebocados e pintados com frescos por dentro. Com poucas cores e sem grande preocupação com a tridimensionalidade, essas pinturas de pequenas dimensões representam cenas da vida do falecido ou da sua preferência, assim como a sua própria cerimónia fúnebre. Mas como não quero terminar esta sequência de cinco crónicas a falar de morte, termino apenas dizendo que saí muito vivificado desta viagem de oito dias.

- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -