maio 27, 2021

Paz no orgulho

Gosto de olhar para trás, para os tempos em que vivíamos todos juntos: eu, o meu irmão, a minha irmã, a minha mãe e o meu pai, ele muito tempo fisicamente ausente (nos mais de vinte anos de emigração que cumpriu). E também gosto de olhar para o contacto que tive com os meus avós. Eram pessoas boas os ascendentes que conheci, e outros de quem ouvi falar, simples e humildes; analfabetos os avós e todos daí para trás, os meus pais vagamente letrados. Pessoas espertas, com o tino alerta para nunca se deixarem enganar e saberem os bons caminhos a indicar aos filhos. Pessoas inteligentes, que se tivessem tido a possibilidade de estudar…, onde teriam chegado! Pessoas que lutaram para dar, e conseguiram, essa oportunidade aos filhos, para que não passassem as dificuldades que eles passaram em crianças e até meio da vida. E os seus pais a vida inteira, e daí para trás vidas e vidas inteiras. Nunca pediram nem esperaram que lhes dessem nada. A motivação estava num forte crer e na garra para mudar as coisas. Por isso, olhando para trás, sinto-me honrado por ter a melhor memória que se pode ter dos pais: orgulho. E a melhor herança que vem com ele: paz de espírito.


do projeto Sincrónicas e anacrónicas