julho 18, 2021

Concerto de cigarras

Por estas alturas, meados de julho e estando calor, é normal ouvir-se por aí a cantilena das cigarras. Uma aqui, outra acolá ou meia-dúzia nas proximidades, camufladas nos troncos e ramos de árvores de médio ou grande porte, produzem aquele incansável e incessante trrr trrr trrr... Mas assim que a temperatura refresca um pouco, calam-se. Ora, num percurso a pé de cerca de 4,5km pelas redondezas da minha casa, deparei com algo diferente do habitual, num terço do trajeto. Mal cheguei perto dum pequeno núcleo de sobreiros, apercebi-me de que pelo menos uma dezena cantava daquela forma intensa e aparentemente sofrível. Afastando-me desse núcleo, logo cheguei a outro com mais sobreiros e também pinheiros, onde bem mais cigarras pareciam cantar ao despique, ou comunicar, mais do que lamentar-se do calor, que já não existia, por ser já princípio de noite e o ar estar fresco. À medida que seguia o meu caminho, deixava de ouvir as anteriores e começava a ouvir outras, umas perto, outras distantes, espalhadas pelas árvores de quintas e dum pequeno bosque. Julgo que terão sido algumas centenas de cigarras num concerto gigantesco e estranho, já não estando calor. Talvez houvesse uma razão para isso. Seriam rituais de acasalamento? O muito pouco que sei de cigarras não me permite saber a resposta.

do projeto Sincrónicas e anacrónicas