julho 16, 2023

Sem-abrigo

Na sala de espetáculos, um espetáculo. Ouvia-se cá fora, perto das paredes mais próximas do palco. Sala cheia, talvez. Na parede lateral, do lado sul, uma saída de emergência num espaço ligeiramente recuado. Nesse espaço, cobertores e tralhas de alguém que ali faria intenção de pernoitar. Passei e olhei. Duas horas depois passei novamente, desta vez em sentido contrário. Lá estava agora o sem-abrigo, dando voltas entre cobertores e tralhas. Tentava abrigar-se na noite demasiado fria para um final de primavera. A reentrância daquela porta protegia-o do vento. Homem de meia-idade, alto, com cabelo comprido e loiro. Pareceu-me estrangeiro, talvez germânico ou nórdico. Reparei que entre aquilo com que se cobria havia uma bandeira nacional, muito suja. Sebenta de tantas nódoas.

- do projeto Anuário de banalidades -