Lembro-me de ir à pesca com o meu avô e de ficar muito mais contente por apanhar dois ou três peixes do que ele que apanhava dez ou quinze. Enquanto eu me encantava com isso, ele não. Perdeu a capacidade de se encantar com a idade, pensava eu. Já viveu tantos anos que se fartou de se encantar. Descobri mais tarde que, afinal, ele aprendeu a encantar-se sem o mostrar. O encantamento dele era uma coisa só dele. Eu queria que o meu encantamento fosse partilhado por todos. Que mania parva! A água a jorrar das fontes e das nascentes, fazendo levantar os grãozinhos de areia, deixava-me os olhos a brilhar. Ao meu avô, não. Ele tinha sempre a fonte consigo.
- do projeto Três, dois, um -