junho 04, 2021

A ânsia da notícia

Parece-me que a generalidade dos jornalistas de televisão tende a endoidecer. Não só esses, mas todos os que que fazem da ânsia de noticiar o foco do seu trabalho, quase um objetivo de vida. Como se os espetadores lhes tivessem pedido algo a que têm de corresponder. Querem noticiar primeiro e garantir grandes audiências. Preferem desgraças a coisas positivas, os dramas à felicidade. São uma espécie de mensageiros da tragédia, da tristeza e da inveja. Pessoas ansiosas. Fazem tudo rápido e dinâmico. Alguns dão as notícias de pé, ou estão sentados e depois levantam-se, e esbracejam a apontar para gráficos. Alguém lhes ensinou que isso prende os espetadores (mas há muita gente que não quer ficar presa). Mas depois engasgam-se e enganam-se, e dão notícias com falhas, e outras falsas. E constroem notícias que não o são. E chegam a fazer notícias do que está para acontecer. Presumindo. E depois há as notícias que passam em rodapé, que chegam a ser três, além da que está a ser falada. E nessas notícias de rodapé há frases estáticas e outras que se deslocam a diferentes velocidades. Chamam-lhes lagartixas. Tudo isto é doido e acontece ao ritmo com que o mundo se encaminha para o abismo. E por isso é tão bom não ver televisão. Ou não ver estas coisas.


do projeto Entre deuses e diabos