Sempre me encantou ver nuvens. Brancas, cinzentas, negras, alaranjadas; pequenas, grandes, plenas de tufos, de aparência plana, etc. Tão diferentes as podemos encontrar. Já escrevi acerca da diversidade e da beleza peculiar das nuvens da Península da Arrábida (sei que o nome oficial é Península de Setúbal, mas já muita gente prefere o outro, que acho que vai acabar por vingar). As largas embocaduras do Tejo e do Sado, a norte e a sul, o atlântico e a planície, a poente e a nascente, assim como a presença da Arrábida tão junto ao mar, conferem a esta região caraterísticas geográficas, climáticas e atmosféricas únicas. E isso faz-se sentir nas formas, densidades, dimensões e cores das nuvens dum modo peculiar (pelo menos assim me parece). Ora surgem pequenas e esfarrapadas, longas e suaves ou densas e tenebrosas. E, claro, as suas formas, aqui como em qualquer lugar, são também muito sugestivas. De tempos a tempos, não me apercebi em que circunstâncias específicas, forma-se uma nuvem única, gigantesca e densa, algo assustadora e de um cinzento acastanhado. É uma nuvem baixa, que avança lentamente do lado do oceano, apresentando uma frente retilínea, com orientação norte-sul, e que lembra um pano de muralha. Chega a estar metade do céu da península debaixo dessa nuvem e a outra metade limpa, ou quase. Ao avançar vai perdendo densidade e, por norma, pouco mais acontece do que uma chuva ligeira. Tem piada o contraste entre a aparência tenebrosa dessa nuvem e os seus efeitos pacíficos.
- Do projeto Entre deuses e diabos -