junho 11, 2021

Mamíferos - Jesús Lizano

Eu vejo mamíferos.
Mamíferos com nomes estranhíssimos.
Esqueceram-se que são mamíferos
e creem-se bispos, canalizadores,
leiteiros, deputados. Deputados?
Eu vejo mamíferos.

Polícias, médicos, porteiros,
Professores, alfaiates, cantautores.
Cantautores?
Eu vejo mamíferos…

Presidentes, criados, escriturários, mestres d´obra.
Mestres d´obra!
Como pode crer-se mestre d´obra um mamífero?
Membros, sim, membros, creem-se membros
do comité central, da ordem dos médicos…
académicos, reis, coronéis.
Eu vejo mamíferos.

Atrizes, putas, assistentes, secretárias,
diretoras, lésbicas, puericultoras…
Na verdade, eu vejo mamíferos.
Ninguém vê mamíferos,
ninguém, ao que parece, se lembra que é mamífero.
Serei eu o último mamífero?
Democratas, comunistas, xadrezistas,
jornalistas, soldados, camponeses.
Eu vejo mamíferos.

Marqueses, executivos, sócios,
italianos, ingleses, catalães.
Catalães?
Eu vejo mamíferos.

Cristãos, muçulmanos, coptas,
inspetores, técnicos, beneditinos,
empresários, caixeiros, cosmonautas…
Eu vejo mamíferos.

poema traduzido por Carlos d'Abreu

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