junho 21, 2021

O contrário do óbvio

Às vezes ocorrem-me raciocínios muito simples de onde nascem conclusões que me parecem muito certeiras. Tão simples e elementares (descomplicadas, que é uma palavra que por aí muito se diz e com que simpatizo) que me surpreendem mais do que muitos raciocínios complexos dos quais pouco sumo pinga. Vejamos… Quem mais fala de liberdade e democracia não as pratica nem as deseja, e defende regimes onde elas não existem; quem muito fala de amor e paixão duvido que tenha as melhores intenções, e num momento de desequilíbrio logo chispará ódio; quem não se cala falando de justiça é, no fundo, capaz das maiores injustiças; quem mais fala de combate à corrupção é quem mais contribui para a camuflar e fazer proliferar; quem muito fala em trabalho está muitas vezes à espreita de oportunidades para não trabalhar, ou para que outros trabalhem por ele; quem muito fala de paz e de harmonia entre os povos fá-lo para desviar a atenção de guerras que, na realidade, defende e promove; nenhum país que se intitula república democrática é uma democracia, nenhum país que se diz república popular tem respeito pelo seu povo. A isso chamo o contrário do óbvio, por me ser tão óbvio que, por um qualquer mecanismo de compensação, se vozeie aos sete ventos precisamente o contrário daquilo que se defende. Quem a sério defende os bons valores tem isso como tão natural e enraizado que não precisa de fazer bandeira deles. Porque os pratica, e pronto.

do projeto Sincrónicas e anacrónicas