agosto 11, 2021

O som da cidade

A primeira coisa que faço quando me levanto é abrir a janela, ou melhor, a metade do lado direito e colocar na horizontal as lamelas da respetiva portada para entrar luz. Vejo a quinta aqui perto e ao longe o casario da cidade. Às vezes ponho-me a olhar um ou outro detalhe. Hoje pus-me a ouvir. E o que da minha casa se ouve melhor, sobretudo durante a noite e a madrugada, se não houver cães a ladrar, é um som surdo que a cidade e seus arredores emitem, uma espécie de ooommm… onde parece dominante o som dos veículos que circulam e das fábricas que trabalham. Mas como esse som não será só isso, mas uma mistura de todos os sons que na cidade e redondezas se produz, pus-me a imaginar que também há nessa mistura os sons emitidos pelas pessoas e objetos em que mexem. Nesse ooommm constante estão certamente também todas as conversas, todos os passos, bocejos, berros e beijos, sem que se consigam distinguir, sem que se consigam identificar.

do projeto Anuário de banalidades