setembro 04, 2021

Escrever, pintar e viver

Tenho tantas ideias de tanta coisa para escrever e pintar, mas muitas vezes prefiro afastar-me do computador e das telas. São muitas as vezes que prefiro dar prioridade à vida, movimentar-me, andar fora desse mundo doido de criar, sobretudo quando isso mais me consome do que alimenta. Clarice Lispector, que tanto admiro, dizia que só se sentia viva quando escrevia, e que estava morta quando não escrevia. Pois eu sinto-me muito vivo quando não pinto nem escrevo, e quando nem sequer ando preocupado com isso. Quando penso no que pintar ou escrever, como que viajo, sim, como que construo universos interiores; quando pinto ou escrevo, vivencio o que do pensamento e dum sentir vasto está a passar para algo que se concretiza. Isso nem sempre é agradável, mas procuro que o resultado me agrade. Viver é estar aqui fora, como que fora de mim, já que o meu dentro por vezes me cansa. Criar é voltar-me para dentro, não que o viver me canse, mas por uma razão qualquer enigmática, que prefiro assim se mantenha: enigmática. Poderia escrever cem ou duzentos livros, tenho ideias para isso; poderia pintar mil ou dois mil quadros, também tenho ideias para isso. Mas muitas vezes me afasto dos devaneios da arte! Preciso de normalidade. Outras vezes lanço-me que nem um doido à anormalidade da arte.

do projeto Sincrónicas e anacrónicas