novembro 20, 2021

A profundidade das coisas - partes I e II

I


Dei por mim tentado pela profundidade das coisas

Por me terem convencido da sua existência


Passei anos buscando a profundidade das coisas

Na solidez aparente da realidade do mundo


Na ilusória sabedoria dos livros dos sábios

Na beleza e em tudo o que nas artes pode haver


Até no misterioso interior de mim

Me convenci haver o que escavar


Mas de tão fundo penetrar encontrei escuridão

Como acontece quando se desce a um poço fundo


II


Não vou descer ao poço fundo

Se à superfície vejo melhor


Não vou meter-me gruta adentro

Se cá fora tenho luz


Não vou procurar a luz ao fundo do túnel

Se a tenho antes de nele entrar


Quanto mais entro na profundidade das coisas 

Mais se me penumbra a vista


Avançar na profundidade das coisas

É provocar cataratas nos próprios olhos


- do livro A superfície das coisas -