novembro 24, 2021

Ida a Santarém

Dois dias depois do 64.º aniversário do meu irmão, fui visitá-lo à sua nova casa em Santarém. Mudou-se de Setúbal para lá há dois meses, para uma casa de piso térreo, perto do antigo hospital, antiga misericórdia, onde nós nascemos. A casa é muito agradável, depois de remodelada pelo seu bom gosto. Os seus quatro gatos, três deles sem pelo, fizeram companhia às sete pessoas presentes, só uma delas sem pelo (eu). Depois fomos dar uma volta pela parte velha da cidade. O meu irmão foi-nos contando onde estudou aos onze-doze anos, numa escola que tinha umas salas nuns edifícios e outras noutros, em ruas diferentes. No caminho para as Portas do Sol falou-nos e mostrou-nos algo que a todos surpreendeu, e a mim até emocionou. Eu tinha uma vaga ideia de já ter ouvido a história, mas pareceu-me estar a ouvi-la pela primeira vez. Contou-nos que quando não tinha aulas ia até esse jardim com miradouro para o Tejo para espreitar para longe através dum monóculo que funcionava com uma moeda. Acontece que pelo caminho ele ia desgastando o rebordo duma moeda de baixo valor pelas paredes das casas, até que ela ficasse com as dimensões duma de maior valor, aquela com que o monóculo funcionava. Ora, o mais curioso de tudo isto foi que ele nos mostrou os sulcos feitos pelas moedas, nas paredes de várias casas, ao longo da rua. Mais de 50 anos depois, em casas que pouca pintura viram desde aí, ainda lá estão alguns com vários metros, feitos à altura da cintura. 

- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -