janeiro 29, 2022

Não te faças violento!

Quando era adolescente e o meu pai me via furioso, alterado ou simplesmente a barafustar, dizia-me Oh pá, não te faças violento!, e sorria. Quando muito, as minhas palavras ou reações mais acesas seriam excessivas, ou algo agressivas, mas não chegavam a ser violentas. Certamente a observação do meu pai teria um caráter preventivo, como se dissesse Vê lá, não passes desse nível para o da violência. Agradeço ao meu pai por ter posto, com palavras tão simples, água na fervura da minha adolescência difícil de aturar, até para mim. Agradeço também à minha mãe, cujo método consistia em fazer levantar mais fervura, até que a água entornasse e apagasse a fogueira. Fazia isso a ralhar ou a dar-me chapadas, às vezes vassouradas. Usaram métodos diferentes, complementares, mas ambos eficazes.

- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -