Há dois anos e meio, no mês de dezembro, estive numa pequena formação sobre som e áudio no Conservatório Regional de Palmela, que me foi sugerida pelo meu amigo Vítor, engenheiro de som. Gostei imenso do que vi e ouvi e fiquei encantado com os conhecimentos e a experiência do palestrante: José Fortes. Faz parte das minhas recordações, desde adolescente, ver o seu nome escrito em vários dos discos de que mais gosto, seja pelas músicas em si, seja pela qualidade das gravações. Após a palestra fiquei com o seu contacto, e passadas poucas semanas liguei-lhe para lhe falar da minha intenção de escrever um livro sobre a Banda do Casaco. Adorou a ideia e ficámos de nos encontrar e de apresentar a ideia ao Nuno Rodrigues, mentor e cérebro da banda. Entretanto, em março instalou-se por cá a pandemia de covid-19 e o encontro foi adiado até não sabermos quando. Fomos mantendo contacto através de telefonemas e de meiles. Entretanto, ao covid juntaram-se problemas de saúde, quer do José Fortes, quer do Nuno Rodrigues, e o encontro foi sendo adiado até… não sabermos quando. Entretanto, dois anos e meio depois, ou seja, na semana passada, fiz umas miniférias de quatro dias com o meu amigo José Luís, pelas bandas de Torres Vedras - Tomar - Caldas da Rainha. Tinha três ideias em mente: quebrar a minha rotina de trabalho, dar umas voltas por aquelas bandas e visitar o José Fortes, que vive perto do Cadaval. Esta visita aconteceu no primeiro dia da viagem, a 10 de junho. Chegámos perto das 13h e, depois de uns calorosos cumprimentos, seguimos para um restaurante no Bombarral onde, durante o almoço, começámos a ouvir lições e histórias de uma vida dedicada à captação e emissão de som. Duas horas depois estávamos no seu estúdio móvel, dentro duma carrinha, e aí ficámos até perto das 20h. Ou seja, estivemos cerca de cinco horas dentro do estúdio, deliciados com as palavras do José Fortes e com o som que saía das colunas do seu equipamento. Gravações dele e não só foram autênticas revelações para nós, fosse de discos que levámos ou de gravações que ele tem no computador ligado ao sistema de áudio do estúdio. Muito daquilo que ouvíamos, mesmo já conhecendo, era como se ouvíssemos pela primeira vez, dada a nitidez dos sons. Mesmo os discos da Banda do Casaco que eu levei não tinham o som que nos foi dado a ouvir a partir da digitalização das fitas originais. Parecia que a banda estava à nossa frente, a tocar e a cantar sem qualquer equipamento de reprodução de som. Obviamente, não cabe numa crónica destas dimensões registar tanta coisa encantadora que vivenciámos nessa tarde inesquecível. A intenção de escrever o livro foi reavivada, mas também percebi o quão complexa será tal tarefa.
- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -