Perto do pôr-do-sol andava junto do rio da minha cidade, porque me apetecia andar e porque me sabia bem apanhar ar fresco. Pus-me a pensar, então, qual seria a banalidade que iria registar neste dia. Claro que ainda faltavam algumas horas para o dia terminar e que muita coisa poderia acontecer. Pus-me a olhar para o rio, sempre tão azul, e para as nuvens, com cores e formas tão diferentes. Um arco-íris descontínuo passava dum lado para o outro do rio. Então reparei naquilo que daria origem à banalidade de hoje. Uma nuvem, mais branca do que as outras, com forma de camaleão de boca aberta, avançava lenta para poente. Curiosamente, estava a entrar na porção mais baixa do arco-íris, logo acima da estreita península do outro lado do rio. Achei piada à semelhança entre a nuvem e o bicho, apenas algo disforme do lado do rabo. Passados dois ou três minutos voltei a olhar, mas da nuvem restavam apenas uns farrapos dispersos e disformes; e também o pedaço de arco-íris havia desaparecido. Concluí que o camaleão voador havia comido as cores do arco, que o haviam feito desintegrar em farrapos de nuvem que, passados mais uns minutos, desapareceram por completo. Deve ser por comerem arco-íris que os camaleões adotam todas as cores.
- do projeto Anuário de banalidades -