Fui decapando duas camas de ferro ao longo de vários meses. Estavam desmontadas, encostadas a um canto e sem uso há muito tempo, com camadas de tinta velha, cheia de falhas. Depois de finalmente pintadas e montadas, dormi numa delas, aquela em que dormi com o meu irmão até aos meus onze anos, até aos dezoito dele. Quarenta e oito anos depois de nela ter dormido pela última vez. A outra foi a primeira cama de casal dos meus pais. Nessa ainda ninguém voltou a dormir.
- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -