As salamandras são animais lentos, algo medrosos e esquivos, que só se mostram quando chove e quase sempre à noite, passando muito do tempo das suas vidas ocultas, debaixo da terra ou de camadas de folhas húmidas. A sua pele preta e amarela, e de aparência viscosa, torna-a algo repelente. Mas isso é uma impressão falseada por um certo medo pelos répteis em geral, que em parte nos é incutido desde crianças. Ao final da tarde, deparei com uma num caminho de terra, por onde passarão dois ou três carros num dia. Mesmo assim, decidi afastá-la, não fosse ela ter o azar de ser esmagada. Peguei num pequeno ramo de castanheiro, ainda com um resto de folha seca numa extremidade, e toquei-lhe com ele lateralmente para que se deslocasse para o outro lado. E deslocou. Após uns vinte segundos em passo lento, a salamandra saiu da zona de perigo e meteu caminho sobre umas ervas baixas e molhadas pela chuva intensa que havia caído. Uns dias depois deparei com outra salamandra, noutro caminho, mas esmagada por não ter tido a sorte de ter passado alguém que a tivesse conduzido para fora do perigo.
- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -