abril 16, 2024

Andreas Stocklein


Alguns anos sem nos vermos, eis o reencontro com o escultor e azulejista Andreas Stocklein, numa visita guiada à exposição retrospetiva do seu percurso de 40 anos, no Museu Nacional do Azulejo. É bom reencontrarmos pessoas de quem gostamos, sabermos que estão bem e que têm sucesso. Nesta fotografia, o Andreas posou de forma algo teatral enquadrando-se numa das suas obras, como se o gesto das mãos tivesse acabado de criar o arco que atravessa os azulejos.

- pessoas -

abril 08, 2024

Ilusão - E. M. de Melo e Castro

Por que escrever se poucos sabem mesmo ler?
Por que ler se poucos sabem mesmo escrever?

Para que quem escreve... lê?
Para que quem lê... escreve?

Porque escrever e ler se enroscam 
Eroticamente um no outro
Como não sei que nem como
Para fazerem um novo ser
Que não tem nome nem razão
Senão a desrazoável ilusão
De escrever e ler

- textos doutros autores -

março 25, 2024

A indecisão da letra muda

C E G A H
C E G H A
C E H G A
C H E G A
H C E G A

- do projeto Mínimos e visuais

março 17, 2024

Flores de olaias no chão

 

Num caminho de terra castanha, salpicado de musgos verdes, caem flores carmim das olaias, no parque de Palmela, situado na encosta do castelo virada a norte. O sol de fim de tarde estava com uma luz intensa, daí as cores tão fortes.

- Coisas por aí... -

março 02, 2024

O discóbolo


 

O discóbolo é uma obra feita há dias, com caneta-pincel de acrílico dourado sobre um LP de vinil. Uma brincadeira que me fez sair do meu "espaço de conforto", como agora se diz.

- Diversos - 

fevereiro 22, 2024

Tenho um gato

Tenho um gato cuja maior mestria é dormir, como sucede com qualquer gato. Olha para mim quase sempre que olho para ele. Às vezes pergunta-me Então, o que se passa contigo? Incomoda-me o seu olhar e as suas perguntas. Nem sempre lhe respondo e chego até a virar-lhe as costas, mas fico a pensar nele. Os gatos passam dois terços da vida a dormir, e em dois terços do tempo que passam acordados estão silenciosos, parados e de olhos semicerrados, sentindo a verdade como ela é: agora e sem porquês. Quando me sento no sofá, vai para o meu colo e olha-me duas ou três vezes com um ar ensonado, dizendo Vou mostrar-te como se dorme. Dá meia-volta, enrosca-se num abraço fraterno ao sono, olha-me uma última vez para confirmar que ainda estou a olhar para ele, e pronto. Depois fico a sentir-lhe o ronrom e a fazer-lhe festas suaves e lentas. Tranquiliza-me, dá-me sono…, mas não durmo.

- parágrafo do Monólogo das insónias -

fevereiro 10, 2024

Um pequeno cogumelo

Um pequeno e colorido cogumelo nasceu sobre um pedaço de sobreiro morto, com um palmo de comprimento. É a natureza a cumprir a sua função de renovar a vida. Não é preciso dizer mais.

- coisas por aí... -

fevereiro 03, 2024

Esmola

Raramente dou esmolas, porque raramente me parece serem sinceros os pedidos. Por outro lado, cruzo-me com gente que certamente precisaria de esmola mas que, por orgulho ou vergonha, não a pedem. E quando dou, às vezes arrependo-me. Hoje dei esmola a um velho que estava sentado num banco de jardim, a meio da principal avenida da minha cidade. À distância vi-o pedir a uma mulher, que lhe deu uma moeda. Eu aproximava-me dele e percebi que me iria pedir também. E assim aconteceu. Estendeu a mão e o olhar na minha direção e disse baixo algumas palavras que não entendi. Passei à sua frente, olhei-o de relance mas segui. A minha mulher disse Cheira tão mal a mijo! Eu não me apercebi, mas olhei para trás e parei. Então, vi melhor a figura daquele homem, que ainda olhava para mim, mas agora de mãos nos joelhos. A sua roupa estava sebenta e a sua pele suja e gordurosa. Tinha boina na cabeça e uma bengala ao seu lado. Peguei na carteira, tirei uma boa moeda, voltei para trás e coloquei-a na mão do homem. Ele agradeceu com uma lengalenga longa da qual só entendi algumas palavras. Não lhe senti mau cheiro, nem me arrependi de lhe ter dado a esmola.

- do projeto Anuário de banalidades -

janeiro 27, 2024

Dentro de cada homem existem várias pessoas - II


A série Dentro de cada homem existem várias pessoas é composta por três telas, todas em quadrícula e com 1,40m x 1,40m. Nesta foi utilizada uma fotografia do Nuno Apolinário, falecido no ano passado. O Napolin, como gostava de ser chamado, pintava e fazia desenhos muito peculiares, sintéticos, reveladores duma sensibilidade muito especial.

- da série Dentro de cada homem existem várias pessoas -

janeiro 15, 2024

Um beijo interminável


Foi em Belver, no dia de ano novo, que deparei com este casal num beijo interminável. Nenhum deles reagiu ao toque que dei no ombro da rapariga. Era meio-dia, estava sol, e certamente estariam assim desde a meia-noite, a comemorar a chegada do novo ano.

- sombras de mim -

janeiro 07, 2024

Quando fecho os olhos no escuro da noite

Muitas vezes, quando fecho os olhos no escuro da noite, e com a lâmpada do quarto apagada, projetam-se luzes multicores no interior das minhas pálpebras, vindas dum foco situado dentro do meu cérebro. Vejo uma paisagem de cores e manchas luminosas, que se move e se transforma com ligeiros movimentos dos meus olhos, ou apenas com o que penso. É um filme meu, numa sala só minha, onde sou o único espetador.


- do projeto Noitário de um insone -

dezembro 27, 2023

Pôr-do-sol em Sesimbra


O post anterior parece que foi combinado com este, mas não. O anterior foi escrito há dois ou três anos, esta fotografia foi tirada ontem. 

- coisas por aí... -

dezembro 21, 2023

O pôr-do-sol

Ao pôr-do-sol as paisagens exercem um fascínio particular, sobretudo por ser o momento evidente da passagem do dia para a noite e pelo colorido particular que a atmosfera toma. Além disso, o lusco-fusco que se segue a esse momento contribui para um efeito tranquilizador geral. E quando nessa paisagem existe água e ou nuvens e ou planície a perder de vista e ou montanhas ao longe e ou casario com luzes acesas, ficamos como que enfeitiçados e em silêncio a olhar e a sentir.

- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -

dezembro 07, 2023

Um aceno de olá


Junto à entrada sul da ponte de Belver, o sol forte de agosto permitiu esta imagem num ângulo feliz. A sombra da mão, habitualmente mais pequena neste tipo de fotografia, ficou aqui enorme por se projetar na parte de cima dum muro. Trata-se de aceno em jeito de olá.

- Sombras de mim -

 

novembro 26, 2023

Se uma palavra não me agrada

Se uma palavra não me agrada 

Não a condeno


Questiono-me por não a saber devidamente

Ou por não achar outra 

Que saiba melhor de mim


Com as palavras que há 

Poderia dizer mais 

Do que aquilo que consigo pensar

Se o soubesse…


Mas com agrado aceito que assim seja

Pois o que há me basta

Por ser demais


- excerto do livro A superfície das coisas -

novembro 17, 2023

Carpinteiros carpinteiros


Na Ladeira, aldeia do concelho de Mação, esta placa anuncia a Rua dos Carpinteiros. O nome terá surgido por desejo popular e alguém escreveu o seu nome num pequeno retângulo de reboco. Mais tarde foi colocada uma placa de mármore sobre ele, oficializando o nome. Mas a placa não tapou completamente o retângulo, ficando repetida a palavra "carpinteiros", de propósito ou não.

- Coisas por aí... -