agosto 22, 2021

A beleza das coisas - Alberto Caeiro

        Às vezes, em dias de luz perfeita e exata, 
        Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter, 
        Pergunto a mim próprio devagar 
        Por que sequer atribuo eu 
        Beleza às coisas. 

        Uma flor acaso tem beleza? 
        Tem beleza acaso um fruto? 
        Não: têm cor e forma 
        E existência apenas. 
        A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe 
        Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão. 
        Não significa nada. 

        Então por que digo eu das coisas: são belas? 
        Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver, 
        Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens 
        Perante as coisas, 
        Perante as coisas que simplesmente existem. 

        Que difícil ser próprio e não ver senão o visível! 

- textos doutros autores -