Amo a vida, esta bela prostituta.
Esta mulher tão pura e dissoluta
- Esfregaços -
Afinal, ao contrário do que me pareceu, o Andreas não estava bem, como escrevi aqui há três meses. A felicidade com que fiquei ao ver reconhecida a sua mestria na azulejaria, na recente exposição do Museu Nacional do Azulejo, foi confrontada com a terrível notícia da sua morte, que aconteceu anteontem. Não é a minha felicidade ou infelicidade aquilo que quero noticiar, mas a partida do Andreas e o modo cruel como sucedeu. Eu não fui ao velório, podendo ter ido, nem irei ao funeral, podendo ir. Nunca percebi por que vou umas vezes e outras não, apesar de isso nada ter a ver com o grau de proximidade ou de estima para com a pessoa. Também não é a minha presença ou ausência das cerimónias fúnebres aquilo que quero noticiar, mas a partida do Andreas, e lembrar que deixou muita obra para apreciarmos: desenhos, pinturas, esculturas e azulejos. Além de boas memórias em quem com ele privou.
- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -
Fausto foi um dos maiores cantautores que Portugal teve. Por este rio acima, o seu disco mais notável, é uma obra-prima de criatividade e diversidade, de qualidade poética, musical, instrumental e vocal. Ouvi-o e cantei-o imensas vezes. Alguns temas são verdadeiramente enfeitiçantes, como Porque não me vês, O que a vida me deu ou Lembra-me um sonho lindo. Tive o privilégio de ver e ouvir Fausto num concerto memorável em Setúbal, no dia em que fiz 19 anos, poucos meses depois de sair o Por este rio acima. À hora do meu nascimento, Fausto cantava Navegar, navegar. Morre quarenta e um anos depois, no dia em que fiz 60 anos. Ficam os discos, as gravações de concertos, as suas canções e a vontade de continuar a ouvi-las.
- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -