março 26, 2022

Altos contrastes - III

Fora da área metropolitana de Nápoles parece que estamos noutro país. Ou será mais correto dizer que em Nápoles parece estarmos noutro país? Nem uma coisa nem outra. No fundo, a Itália é um mosaico de diversidade de regiões, cidades, geografia, línguas e dialetos, história e histórias. Muito do seu charme advirá dessa diversidade, assim como do culto da arte e da beleza. Dei um salto a uma das ilhas em frente da cidade, a mais falada, a mais turística, queira isso dizer o que quiser: Capri. Mas antes de falar da ilha, falo de mais um detalhe tipicamente italiano, ou napolitano: a pouca organização ou, pelo menos, a inexistência de rigor. Os horários da internete diziam uma coisa, nos folhetos estava outra, e o que estava indicado no próprio local era outra. O cais de embarque para o nosso barco era um num sítio e outros na boca de quem nos respondia, inclusive funcionários do porto. Só na altura, com as pessoas a dirigirem-se para um barco é que, finalmente, ficámos a saber o local; e soubemos a hora de partida quando se soltaram as amarras. na ilha fiquei algo desiludido, não com a ilha em si nem com as pessoas, mas com as expetativas que havia criado. Só lá estive meia-dúzia de horas e vi pouco. Achei feia a povoação de Capri, pouco interessante dum ponto de vista arquitetónico e urbanístico. Gostei de Anacapri, tanto do núcleo central como do casario e palacetes à volta, entrecortados por algum arvoredo. São povoações pequenas mas que enchem de gente no verão, como as outras a que não fui. As vistas junto à costa são bonitas, como habitualmente são as costas recortadas e com falésias. Gostei do sossego da ilha, no dia de inverno em que lá fui. No regresso foi outro stresse, com a compra do bilhete, o local de embarque e a hora do mesmo. Mas pronto..., à noite, já bem cerrada, estava de volta a Nápoles. Aliás, com chegada a outro cais. Fui também à Costa Amalfitana, de carro alugado. Nas estradas estreitas e cheias de curvas e contracurvas não há outra hipótese senão conduzir devagar e com muito cuidado. Mas, para meu espanto, fora da grande cidade, incluindo nas boas estradas planas e nas autoestradas, conduz-se calmamente e sem pressas. Também neste aspeto fiquei com a sensação de ter mudado de país. A Costa Amalfitana é a do lado sul da Península de Sorrento; o lado norte fica virado para Nápoles. Andei dois dias por ali mas nenhuma povoação me encheu as medidas. As paisagens e as montanhas, sim. A península é recortada e montanhosa. Da casa onde pernoitei, em Ravelo, via uma paisagem fantástica, impossível de ver em Portugal. A meus pés, quase a pique, socalcos com casas, quintais e quintinhas. À esquerda, uma montanha alta e com neve lá em cima; em frente, lá em baixo, uma pequena povoação com  uma praias de seixos; à direita, o mar, calmo e plano. Com chuva era uma coisa, sem ela outra, e ainda outra com sol.

- do projeto Sincrónicas e anacrónicas -